quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O passageiro

Olhar fixo, inerte, sem brilho algum, quase doentio. Contempla o trajeto cotidiano com a indiferença de quem se perde em seus pensamentos, ou na falta deles. Para ele, pouco importa quem está ao seu lado, por trás, na sua frente. Lá fora é o que importa, e é lá que sua atenção aparentemente morta permanece, por intermináveis minutos.

Outros olhares são mais inquietos, atentos. Quase nada passa despercebido: “Aquele tênis sujo, deve haver meses que não são lavados”, “Aquela moça bonita que entrou, sentou-se em outro lugar, droga! Me ajeitei no banco pra lhe ceder lugar e quem sentou do meu lado foi essa senhora que insiste em puxar conversa”, “O cara tá lendo no meio de todo mundo. Será que gosta de ler tanto assim, ou quer pagar de inteligente?”. Pensantes, enquanto observam a mistura matinal de todo dia.

Aqui se pensa de tudo, por que tudo é permitido pensar. Ninguém vai saber mesmo! Mas eu queria, sou curioso. Pena não conseguir ler os pensamentos de todos. O que será que está pensando o garotinho no colo do pai? Será que tá achando que aqui dentro balança muito? E esse cara em pé, atrás da moça de bumbum lindo, se inclinando pra frente, encostando, nojento, no que será que está pensando agora? Tem aquele senhor idoso que tem preferência, muitas rugas, cabelos brancos, conhecedor de tudo o que é dor, no que será que tá pensando agora? Será que acha que, valeu a pena?

Olhos se encontram e se desencontram em uma rapidez tímida e incrível. São tantos rostos: tristes, alegres, sofridos, ingênuos...Tantos detalhes: Narizes, uns grandes e outros pequenos. Olhos de todas as cores, uns pintados e outros sonolentos. Bocas beijáveis, perfumes baratos, cabelos minuciosamente arrumados, outros carentes de tempo para serem penteados. Uniformes, escolares, do trabalho, quase sempre odiados. Possibilidades se misturam aqui, incontáveis.

Todo dia é assim, o trajeto é sempre o mesmo, mas sempre algo se renova, pode ser uma roupa, um cheiro, um sorriso, ou quem sabe um “alô” ao celular. Rotina, é ela quem dita as regras, e a minha, me diz que tá na hora de dar o sinal e descer, minha parada chegou.


Autor: Leo Spindola

Nenhum comentário:

Postar um comentário