quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Nada além da metade do que eu era antes de você


“Muito obrigado pelo tempo maravilhoso que estivemos juntos, mas preciso ir.”

Foi assim que ela me deixou. Eu não tive tempo nem de dizer adeus. O perfume dela foi atrás, seguindo sua dona e não deixando sequer um resquício dos tempos que viveu no espelho do banheiro. Do nosso banheiro. Do meu tão solitário banheiro. O cabelo foi o último a me deixar. Lembro do último fio se despedindo antes dela fechar a porta. Aqueles cachos que outrora viveram em repouso sob meu travesseiro, que outrora viveram entrelaçados com o ralo do banheiro e que sempre geravam admiração por onde passavam se foram. Eu não sei o que fazer com os gatos que você tanto me pediu pra ter e que agora me parecem os piores amigos do mundo. Eles me fazem acessar as memórias dos dias felizes, em que acordávamos com os miados e tomávamos café juntos. Nós nos beijávamos a noite toda. Eu não tenho nem ideia de quantas vezes ia pro trabalho te odiando por me fazer perder mais uma noite de sono. Ao fim do dia, a única coisa que eu queria era chegar em casa e te encontrar com aquele ar de “se sou bem vinda ou não, aqui ficarei”. Eu deixava você ficar e você foi ficando. Quando eu percebi, você já era parte da minha rotina, da minha essência e dos meus planos. Casamento? Eu cheguei a te comprar um anel e estava guardando pra te dar, mas ainda não tinha coragem. Não me achava bom o suficiente, não tinha coragem de te pedir para ficar comigo até os fins dos nossos dias. Me arrependo por não ter te perguntado, eu perdi tempo demais. Agora você se foi e, em mim, restam partes tão grandes suas que eu acho que fui com você. Não sou mais nada além de metade do que eu era antes de ti.