Tá tudo tão confuso. Minha cabeça está trabalhando mais do
que esse ventilador de teto furreca que você me obrigou a comprar. Como pode
ter dado certo? No início, parecíamos um dançante casal desengonçado. Eu pisava
no seu pé, você se enrolava nas próprias pernas, girávamos até o fim do dia,
naquele barzinho de beira de rua. Olha só pra gente, amor! Quero dizer, não
olha não. Fica paradinho aí, desse jeitinho, deitado de bruços no travesseiro,
espalhando meus lençóis, bagunçando minha cama. Já me bagunçou por inteira,
nada mais importa.
Moreno, eu poderia pegar aquele Aurélio velho e empoeirado
da minha estante e utilizar as mais belas palavras para te descrever, mas seria
vazio demais. Não seria meu. Moreno, eu poderia pintar a Muralha da China com
as mais belas frases de amor, mas seria tudo tão sem cor, tão sem vida. Não
seria eu. Moreno, eu poderia desenhar nosso amor nas nuvens, nos mares, nas
galáxias, mas não seria grandioso. Não seria nosso. Moreno, sabe o que é
verdade? Verdade é aquela lâmina de barbear que você aposentou pra me
satisfazer. Verdade é aquele copo com cheiro de vinho barato que você deixou
sujo na mesa da sala. Verdade é esse pé solitário que cisma em arrancar a meia
que o cobre durante a noite fria. Verdade é esse roxo no seu pescoço. Verdade é
o nosso amor. Vou largar esse texto por aqui, vou deitar com você, moreno.
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