sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Vestido rasgado

Eu fico pensando em quanto você sofreu, em quanto se magoou, em quanto se feriu. Fico pensando com que tipo de mulheres você lidou e o quanto elas foram tolas por terem te perdido. Você foi o vestido favorito delas. Foi usado, lavado e, depois de tudo, foi esquecido no fundo do cesto de roupa suja e trocado por um novo. Rapaz, não chore, ao menos você teve o prazer de vestir outras mulheres. O pior é que você sempre pensou que era o mais esperto, não adianta negar, todo mundo já sabe. Você era só um vestido bonito pra elas. 

Te comparar com uma peça de roupa é cruel, eu sei. Você é mais que isso, mas não para elas. Moço, você é meu novo colar de brilhantes. Ou minha nova coleira, você decide. Tenha certeza que colares não são trocados e nem esquecidos, toda mulher gosta de um diamante, já dizia minha amiga Mary. O que me deixa triste é saber que eu nunca te terei por completo. Você foi morrendo aos poucos, foi desgastando e sendo devorado por traças. Se eu pudesse te ver em forma de vestido, não te tiraria da arara. Você seria aquele vestido da última coleção, esquecido no fundo da loja e qualquer louca que tentasse te levar pra casa, não entraria em ti. Mas aí eu te vi e pude enxergar um diamente bruto, só esperando ser lapidado. Te levei pra casa, te dei carinho e venho deixando você ter o prazer de cobrir meu pescoço. Você me deixa mais bonita, mais confiante e menos solitária. Não te tiraria nunca do pescoço, não te jogaria nunca num cesto de roupa suja e tenho pena. Tenho pena das tolas que só conseguiram enxergar um vestido bonito em um homem que brilhava feito diamante. 

Vírus do ciúme

Se por acaso eu reclamar de dores no cotovelo, partir e não te atender no dia seguinte, fique atento: isso pode ser o vírus do ciúme. Claro, pode ser qualquer outra bobeira feminina e é melhor me levar ao médico antes de me dar qualquer tipo de medicamento. Se o resultado do exame der positivo, compre os remédios e comece o tratamento imediatamente. O comportamento varia de um paciente para o outro, mas os sintomas mais comuns da fase do tratamento são: orgulho e vingança. Fique bem atento pois se houver vingança, o vírus pode ser transmitido para a outra pessoa de forma silenciosa e outros cotovelos doerão. Se houver orgulho, o paciente pode se recusar a tomar os remédios preescritos pelo médico, dificultando o tratamento. Leia a bula para saber dos efeitos colateráis. Remédios como Conversar e Esquecer são ótimos para o paciente que apresenta sintomas de orgulho. Já os vingativos podem se tratar também com o Perdoar 750mg. 

Essa é uma doença que ainda está sendo estudada, qualquer sintoma parecido deve ser observado e tratado o mais breve possível. Pessoas que possuem tal doença tendem a serem mais desconfiadas e mais infelizes que as outras. Cuide-se e peça para o seu parceiro se cuidar também. O Ministério dos Relacionamentos agradece.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A droga

Ela nunca tinha experimentado essa, apesar de todas as suas amigas já terem passado por isso antes. Algumas delas disseram que era maravilhoso, coisa forte, das boas. Outras disseram que álcool e cocaína deixavam marcas mais leves. A curiosidade batia nas portas daquele corpo sedento por novidade e tudo aconteceu ao lado dele. Se conheceram numa festa, Carnaval, sabe? Festa grande, gente conhecida e muito barulho. Começaram com simples palavras, simples conversas, simples telefonemas e simples beijos. Quando viram, já estavam entrelaçados e enrolados naquela linha invisível que costumava unir os casais. Foi ali que tudo começou... 

Ele já tinha usado antes, já sabia como a coisa toda funcionava e já sabia a dose certa pra não se viciar. Ela era novata, era carne fresca e ele podia ver o medo nos olhos dela. Sua primeira dose foi entregue pelas mãos dele. Dizem por aí que quase 90% das pessoas que usam se viciam de primeira. Ela não foi exceção e se viciou. A primeira vez é sempre a que marca mais, certo? Errado, não com essa droga. A primeira vez era apenas a iniciação por um caminho incerto, torto e esburacado. Ela tinha muitos dias felizes ao lado dele e de sua nova companheira. Eram dias que ela não queria que acabassem, dias coloridos e ensolarados. Ela quase podia sentir o próprio coração batendo nas mãos dele. Aquilo saiu do controle e ele não sabia mais o que fazer. Como dizer à ela que ele não lhe daria nunca mais a dose diária de sua droga favorita? Como explicar à um viciado que toda a droga se foi? Ele não queria encará-la, apenas foi diminuindo aos poucos a dosagem. Ela sentiu, ela percebeu, ela se queixou e implorou por mais, até que um dia ele interditou de vez o "caminho da felicidade" que ela tanto gostava. Ela parou, fingiu que estava tudo bem, tentou tocar a vida e surtou. Enquanto esperava sentada no canto do banheiro pensou no quanto se arrependia do que tinha experimentado, pensou que se pudesse voltar no tempo, voltaria naquela festa e teria passado direto por ele. Em contrapartida, pensou que se seguisse direto, teria esbarrado em outro que iria lhe oferecer a droga responsável pela sua ruína.

 Antes de fechar os olhos para sempre, concluiu que todo mundo, no fundo, era viciado na mesma droga que ela, mas que todos eles sabiam tomar as doses certas.

 Antes disso tudo, sentiu um gosto amargo na boca e desejou só mais um pouquinho da droga do amor.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Mais uma sobre barbas... Sobre você.

Acabei de notar algo que não tinha parado pra pensar: eu estou em cada parte do teu quarto. Estou sim, é verdade! Eu estou no cheiro que fica nos seus lençóis, estou nos fios de cabelo que ficam espalhados no piso branco, estou naquele coração de ímãs do mural que você adora, estou pregada num papel com uma declaração de amor, nas músicas que você tem escutado, estou nas coisas que larguei pelo teu armário, na marca de batom que deixo nos teus copos e na bagunça que deixo na sua escrivaninha. Você está, mas não no meu quarto. Você está em mim. Está naquele arrepio quando sinto tua barba percorrendo meu pescoço, está nos sorrisos que saem de minha boca quando penso em você, está nos dedos viciados nos temas remetentes à ti. Você é meu amor, o meu amor dos olhos bêbados, da barba por fazer e dos sorrisos contidos. Eu sou sua e serei, até onde der. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Estrangeira numa terra estranha

Você é uma pessoa absurdamente complicada de descrever, mas quando se está apaixonada as coisas ganham sentidos e proporções desconhecidas até então.

 Quando eu olho no fundo dos seus olhos, me encontro inerte em um abismo sem fim, num mistério que, por mais que me assuste me dá vontade de mergulhar de cabeça e me distanciar cada vez mais da luz. Seus cílios longos, seus olhos fundos e cansados, sua pálpebra sempre pela metade do caminho, o teu olhar de ser humano valente e medroso ao mesmo tempo, isso tudo me atrai para o abismo. O seu abismo. E quando penso que já me perdi, que já cheguei ao fundo de tudo, que já estou presa entre suas grandes órbitas negras, você sorri pra mim e sinto como se toda aquela escuridão tivesse se dissipado. Eu consigo, finalmente, enxergar o lugar que me empoleirei.

 Eu sou uma estrangeira numa terra estranha, numa terra que já fora desbravada por outras mulheres inúmeras vezes, mas que nunca chegaram ao fim. Eu sigo caminhando, sigo sendo guiada pela luz do seu sorriso, pelo calor da tua pele e pelo som do teu coração batendo. Vou indo e indo e indo. Vejo que as paredes, antes tão separadas, começam a se afunilar e se encontrar lentamente num movimento que me faz lembrar as aulas de matemática. O caminho é o mesmo, em linha reta sempre. De vez em quando, me perco e me desespero, tropeço pelo caminho e penso em desistir, mas aí ouço tua voz e lembro o que eu estou buscando e o que me mantém nessa viajem.

Quanto mais eu ando, mais me afasto da luz, mais segredos desvendo, mais aprendo sobre você. Ao fim dessa longa jornada, chego ao ponto final de tudo e encontro você, parado e com uma cara nada muito boa. Você pensa que eu não te entendo, que é tolice minha buscar entender, você briga e fica com medo do que eu vi e no fim de tudo eu me dou conta de que não tem como te entender porque você faz parte de mim. Para te entender, eu preciso me entender e quando se está apaixonada as coisas ganham sentidos e proporções desconhecidas, lembra?


 Eu só vou te entender quando tiver a capacidade de caminhar sozinha dentro da minha própria alma, dentro dos meus próprios olhos. E acima de tudo isso, o amor é algo que não se entende, você se joga e sente todas as dores e todos os prazeres da vida ao mesmo tempo, você morre e vive todos os dias de amor, você fica doente dele e sua cura é ele mesmo, o amor é traiçoeiro e ao mesmo tempo honesto com todos, o amor, pra mim, é você.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Opções

Acredito que o ser humano possui duas opções: continuar e parar. Se optar por continuar, corre o risco de se dar bem, mas também corre o risco de se dar mal. Se optar por parar, nunca saberá o que poderia ter acontecido e com isso, evitaria o mal. Por outro lado, também poderia evitar o bem. Por fim, tiro como conclusão que não importa a opção escolhida, a vida não dará as respostas tão facilmente. O jeito é arriscar. 

sábado, 13 de abril de 2013

Felizes, para sempre?


Eu juro que tento. Eu juro que tento me desfazer de você o tempo inteiro, mas o teu cheiro já grudou em mim. Juro que tento não pensar em você, mas tua imagem já estampa boa parte das minhas memórias. Eu juro que tento não escrever sobre você, mas meus dedos já se viciaram em palavras que te descrevem. Eu juro que tento não pronunciar teu nome, mas minha boca é viciada nele. As canções de amor que meus ouvidos gostam me fazem pensar em você e eu juro que tento não pensar. O pior de tudo isso é não saber ao certo o que sinto, o que quero, o que penso. Acho que é algo na tua voz. Talvez no jeito que você me olha com os olhos semicerrados. A boca entreaberta. Eu já começo a pensar que não consigo mais viver sem ti. Isso tá me dominando, já me dominou.

É engraçado, você está em ruínas e eu que preciso ser salva. Eu preciso ser salva desse domínio. Eu não quero ser salva. Não quero prometer mais nada e meus juramentos foram todos em vão e quero te desafiar: se você for realmente bom, vá embora antes que dê errado. Vá embora agora e, por favor, não olhe para trás, eu não vou aguentar te olhar nos olhos. Eu não vou aguentar te olhar por uma última vez.

A confusão é tanta que apesar de não te querer longe, também não te quero tão perto. Você já me tem tanto... Já sabe tanto... Já viu tanto... Tirar as roupas é tão mais fácil pra mim. Tirar, vestir e ir embora. Seria tudo tão mais fácil se fosse só assim... Mas não. Minhas roupas ficam com teu cheiro e eu, bem, eu fico com você. E quero ficar. Quero que você fique. Eu já te disse que não sei fazer o certo e não quero aprender.

Talvez naquele teu sonho encantando, que eu cismo em contestar, haja verdade. Queria que houvesse. Infelizmente, o tempo não nos cabe, tampouco o espetáculo do Destino. Eu tento não acreditar em ti, mas queria que fosse verdade. Queria a Terra do Nunca. Queria nós dois... Para... Sempre?

terça-feira, 9 de abril de 2013

Prioridades cotidianas

Na sala de aula estou isolada, o meu único acompanhante é meu livro. Eu deveria estar estudando, deveria estar prestando atenção nesse novo professor de Física, nessa porcaria de correção. Eu deveria estar lendo o edital de uma prova qualquer. Deveria sentir fome, o gosto do café que tomei pela manhã ainda paira em minhas papilas, mas não sinto. Eu já deveria ter lhe mandado uma mensagem desejando um "bom dia", mas meu dia não será bom. O pior é que só se passaram algumas horas desde a "despedida" derradeira e já estou abalada. Fazer o certo não é pra mim. Eu deveria estar fazendo tudo, menos pensando em ti. 

O estúpido do professor me fez parar de ler meu livro e me sinto mais solitária ainda. Minha amigas me chamam, mas eu não quero ir, não quero mudar o humor de ninguém por conta dos meus olhos tristonhos. Acho que a convivência com os teus olhos fizeram os meus entristecerem. Eu não nasci pra fazer o certo. Devo ter nascido para ser errante. Isso me faz melhor, me faz menos racional e mais feliz. 

Vou pedir pra alguma entidade abstrata para que a ordem das coisas seja alterada: que o certo seja o errado, o errado seja o certo e você seja meu. Acho que estou tendo outro devaneio, minha cólica está me matando e ao fim do dia terei certeza que a cólica é uma das melhores dores perto de ter que te ver sem mim. 

Puta que pariu, que merda está acontecendo comigo? Já me entreguei, já foi e eu não quero voltar atrás, apenas voltaremos ao início. 

O professor me mandou parar de escrever, qual é o problema dele comigo? Por que você ainda não me mandou mensagem? Acho que não vai mandar... Estou faminta. Faminta e sem inspiração para escrever coisas bonitas. Vou focar nas  prioridades, essas porcarias de prioridades cotidianas. Odeio o cotidiano. Odeio Física. 
Odeio fazer o certo.

Merda de dia. 

sábado, 6 de abril de 2013

Você, por mim.


Me sento aqui e reflito sobre os mil motivos que me fazem continuar contigo. Reflito também sobre as mil consequências de continuar essa experiência. Esse teu jeito, essa tua voz e todas as palavras cuidadosamente pensadas me fazem derreter por completo, feito manteiga na frigideira. Você sabe que sou sua, você sabe que por mais que eu pense, não conseguirei partir assim do nada. Você sabe do domínio que, inconscientemente, impõe sobre mim. Infelizmente as coisas não são do jeito que desejamos. Infelizmente o ponteiro do relógio corre quando nos amamos. Infelizmente os anos se arrastam quando deveriam ser instantâneos. E apesar de todos os apesares, eu não quero ir embora. Eu. Quero. Você.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Poeira humana


Carolina vivia em seu pequeno mundo dos prazeres. Não era muito bonita, mas era charmosa e inteligente. Inteligentemente enganada por todos que se interessava. Ela dizia não se importar, dizia que relacionamentos eram para pessoas mentalmente inseguras e que era um “ser evoluído” e independente. Carolina era hipócrita.

Tinha todos que queria, porém só por uma noite. Ela fazia de tudo para eternizar tal noite e materializá-la fora do mundo dos sonhos. Observação: ela sonhava muito. Sonhava com os longos beijos, com as longas noites de amor e com as intermináveis carícias de seu parceiro. Carolina passava a maior parte do tempo no “Mundo dos Sonhos”. Segundo ela, era melhor, menos sofrido, mais prazeroso e menos decepcionante. Naquele mundinho, ela podia vivenciar as mais lindas histórias de amor contadas em filmes, podia experimentar as frutas mais doces dos pomares em que passeava com seu amor, podia cavalgar os mais belos cavalos brancos.

O que ninguém sabia sobre Carolina era o fato de que ela tinha sentimentos. Passava intermináveis tardes olhando pro celular e se perguntando “Por que ele não me atende? Por que não me liga?”. Ela chorava sozinha no sofá, naquelas tardes quentes, em seu apartamento apertado, na sua vida de ilusões.

Essa era a nossa pequena Carolina. Ela foi crescendo, crescendo, crescendo e desabrochando-se em uma grande Carol. Grande Carol, grandes ilusões, pequenos amores. Seguiu sua vida, seguiu sua tristeza e por fim, virou um grande monte de nada. Um monte de poeira. Um resto de ser humano. Carolnada. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O passageiro

Olhar fixo, inerte, sem brilho algum, quase doentio. Contempla o trajeto cotidiano com a indiferença de quem se perde em seus pensamentos, ou na falta deles. Para ele, pouco importa quem está ao seu lado, por trás, na sua frente. Lá fora é o que importa, e é lá que sua atenção aparentemente morta permanece, por intermináveis minutos.

Outros olhares são mais inquietos, atentos. Quase nada passa despercebido: “Aquele tênis sujo, deve haver meses que não são lavados”, “Aquela moça bonita que entrou, sentou-se em outro lugar, droga! Me ajeitei no banco pra lhe ceder lugar e quem sentou do meu lado foi essa senhora que insiste em puxar conversa”, “O cara tá lendo no meio de todo mundo. Será que gosta de ler tanto assim, ou quer pagar de inteligente?”. Pensantes, enquanto observam a mistura matinal de todo dia.

Aqui se pensa de tudo, por que tudo é permitido pensar. Ninguém vai saber mesmo! Mas eu queria, sou curioso. Pena não conseguir ler os pensamentos de todos. O que será que está pensando o garotinho no colo do pai? Será que tá achando que aqui dentro balança muito? E esse cara em pé, atrás da moça de bumbum lindo, se inclinando pra frente, encostando, nojento, no que será que está pensando agora? Tem aquele senhor idoso que tem preferência, muitas rugas, cabelos brancos, conhecedor de tudo o que é dor, no que será que tá pensando agora? Será que acha que, valeu a pena?

Olhos se encontram e se desencontram em uma rapidez tímida e incrível. São tantos rostos: tristes, alegres, sofridos, ingênuos...Tantos detalhes: Narizes, uns grandes e outros pequenos. Olhos de todas as cores, uns pintados e outros sonolentos. Bocas beijáveis, perfumes baratos, cabelos minuciosamente arrumados, outros carentes de tempo para serem penteados. Uniformes, escolares, do trabalho, quase sempre odiados. Possibilidades se misturam aqui, incontáveis.

Todo dia é assim, o trajeto é sempre o mesmo, mas sempre algo se renova, pode ser uma roupa, um cheiro, um sorriso, ou quem sabe um “alô” ao celular. Rotina, é ela quem dita as regras, e a minha, me diz que tá na hora de dar o sinal e descer, minha parada chegou.


Autor: Leo Spindola

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nada de flores

Demoníaca era a palavra perfeita para definir Rosa. Esculpida perfeitamente, possuía uma beleza estonteante que poderia enlouquecer os mais fracos de mente. Todos que caíam em suas redes instantaneamente se tornavam reféns. Era paixão a primeira vista.

Quantos casamentos ela destruiu? Quantos namoros ela rompeu? Quantos corações partiu? Isso pouco importava pra ela, aliás, essa era sua missão. Rosa sugava os pobres que se aventuravam com ela. Ela os cativava, iludia e depois ia embora, sem mais nem menos. As pobres vítimas de suas armadilhas voltavam para casa atordoadas com tudo o que acontecera. Mulheres inocentes eram traídas. Homens traidores eram amaldiçoados e passavam o resto da vida com Rosa em seus pensamentos. Ela era má. Era uma súcubo do amor.

Rosa viveu sua infância e juventude traindo todos. E foi envelhecendo... Envelhecendo...  Envelhecendo e cedendo sua beleza para dar lugar a rugas e cabelos brancos que cresciam. Rosa não tinha ninguém, nunca teve e nunca terá.

Rosa partiu tantos corações. Rosa partiu o próprio coração e morreu sozinha no tapete da sala.  Ela só será lembrada por quem magoou, por quem iludiu e por quem destruiu. Não haverá flores no enterro de Rosa. Nem orações. Nem ninguém. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Bilhetes na madrugada


Ela se espreguiçava, se esticava todinha e sorria. Apoiada naquele balcão sujo, servindo o próprio corpo em troca de algum dinheiro. Essa era Sandra, ou como era conhecida na região, Sandrinha. Lábios carnudos, olhos penetrantes e longo cabelo cacheado. Seios fartos, belas pernas e uma bunda deliciosa. Sandra, Sandrinha, meu amor.

Tolo, idiota, otário, esses eram os apelidos que havia recebido de meus amigos. Não discordei nenhum momento, se apaixonar por uma mulher da vida não é aconselhável. Saber que outros passeiam pelo corpo de minha pequena me dói. Queria tirar Sandrinha dessa vida, já falei pra ela que eu coloco casa e até uso anel. Sandra não quer, ela gosta da promiscuidade, gosta de ser desejada por todos os homens, gosta de sexo. Acho que Sandra é ninfomaníaca.

Tô aqui há uns 20 minutos com cara de idiota olhando pra ela e escrevendo numa porcaria de bloquinho. Ela não parou um instante. Já falou com todos os homens do bar, trocou uma caralhada de telefones, já empinou a bunda apoiada no balcão e já arrancou dinheiro de muitos. Ela é foda. Ela é linda, uma deusa e não é minha. Por que você faz assim comigo, Sandra?  Logo eu, que era o seu “melhor cliente”...

Edu.

-

Edu, não sei se você conseguiria me entender. Tô te vendo sentado com cara de idiota e escrevendo. Já fiz uma boa grana hoje e estou só esperando você me chamar pra fechar a noite. Eu só quero sexo e dinheiro, nada mais. Pare de me mandar bilhetinhos durante o meu expediente, você sabe que o Marcão é bravo e não gosta dessas intimidades. Se quiser, vou fazer um precinho camarada pra você, 50 “pilas” a hora.

Sandrinha.
-

Edu, mais um bilhetinho pra Sandrinha no meio do expediente dela e eu te apago.

Marcão.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Venham escutar o amor cantar!

E por alguns minutos, aqueles jovens preencheram todo o ônibus com um misto de sentimentos que eu jamais conseguiria te explicar, meu amigo.

Houve quem reclamou por estar cansado e por não conseguir tirar uma pestana. Houve quem só observou, os olhos estatelados e boca inquieta (mesmo sem dizer nada). Houve quem se aninhou, sorriu, cantou junto e até bateu palma.

Sinceramente, isso de nada importa. Naquele momento, todos puderam agir de forma verdadeira, alguns até pela primeira vez na vida. Todos conseguiram ser uma única voz e, até os mais ranzinzas, sentiram a dor do silêncio quando o grupo partiu.


O grupo se dissipou. O grupo se foi. Nós nos separamos. Eu me calei. Porém, a música em nossos corações jovens e valentes, nunca cessou. Nunca cessa. Para todo o sempre. 

[+18] Lembranças de uma noite de verão

Estou acordada, lembrando da nossa última noite. E pensar que sufocamos o mesmo sentimento durante um bom tempo. Aliás, acho que não seria bem um sentimento. Enfim, deixo gravado aqui todas as delícias que vivencie com ela.

Ela chegou aqui em casa por volta de umas oito da noite e estava radiante como sempre. Ela é minha melhor amiga ou pelo menos era... Jogamos conversa fora, falamos sobre homens, sobre moda, sobre o universo de futilidade que envolve toda e qualquer mulher. Bebemos algumas latinhas de cerveja e depois nos preparamos para assistir um filme qualquer sobre um casal qualquer. Foi então que tudo começou. Com as luzes da sala já apagadas e ela totalmente à vontade com o vestido que usava, meu corpo pediu por ela. Devia ser carência. Fui chegando mais perto, arrastando meus dedos sonolentos num movimento contínuo e calculado. Meu coração devia estar a mil, como eu queria aquela mulher... Ela notou algo estranho e perguntou se eu não estava me sentindo bem, eu fiz um gesto que esclarecia a pergunta e me voltei ao filme.

Já não aguentava mais observá-la no canto dos olhos, tudo o que eu mais queria era explorar cada pedacinho dela. Sentei de frente pra ela e fiquei observando-a. Ela deu de ombros e disse que queria mais cerveja. Eu estava tão tensa que deitei e sobrepus um braço tampando-me a visão. Senti um corpo quente encaixando-se no meu e logo abri os olhos. Ela me encarava como se quisesse me invadir e eu, totalmente a favor dessa invasão, aproveitei para analisar cada curva de minha amiga. Inclinando seu corpo sobre o meu, ela deixou que sua língua escapasse e fosse de encontro a minha. Nos beijamos por intermináveis minutos. Era um beijo descompassado, confesso, mas estava deliciosamente me causando arrepios nas pernas e um alvoroço entre as mesmas.

Inverti nossas posições e passei a beijar-lhe o pescoço. Aqueles longos fios negros eram meio inconvenientes e se metiam entre um beijo e outro que eu despejava nela. Minhas mãos passeavam novamente por suas belas curvas e almejavam por sua pele. Arranquei-lhe o vestido e passei a despejar meus beijos por seus seios. Ela pedia mais e delicadamente posicionava minha mão para melhor satisfazê-la. Eu passava minha língua por aqueles mamilos rosados enquanto subia e descia um dedo por sua calcinha. Chupava, mordiscava, lambia, provocava e me contorcia de tesão vendo a carinha de prazer que ela fazia. Fui descendo meus beijos por sua barriga, passei minha língua por suas pernas entreabertas e cheguei onde queria. Abri um pouco mais suas pernas e contemplei aquela delícia rosa e molhada.

Meus dedos, não mais sonolentos, deslizavam de um lado pro outro enquanto outros dois exploravam mais afundo. Ela gemia baixinho, só pra mim. Prolonguei o movimento até sentir algo quente escorrer por minhas mãos. Tirei minha roupa. Voltei a chupar seus seios. Passava minha língua de um lado pro outro enquanto meus dedos a masturbavam. Ela se contorcia e me arranhava. Desci e enfiei minha língua entre suas pernas. Chupava sua delícia rosada, sentia o gostinho dela na minha boca e explorava cada cantinho com meus dedos. Jamais me esquecerei dos gemidos dela. Chupava enquanto introduzia dois dedos nela. Acelerei o movimento e senti seu corpo estremecer e depois relaxar, enquanto minha boca se enchia de seu líquido quente.

Exaustas e suadas, nuas no chão da sala. Deitei ao lado dela e ela sorriu pra mim. Nos beijamos mais uma vez e ela retribuiu o meu esforço. Me masturbou e me chupou até o ápice do meu gozo. Que mulher! Dormimos e agora estou aqui, no meio da madrugada, escrevendo sobre nós duas. Acho que vou acordá-la mais uma vez...

Um vilão nem tão vilão assim


Extremamente atraente. Convincentemente seguro. Um poço se sensualidade e mistério que envolve qualquer pessoa em questão de segundos. Não quer saber de compromissos, de paixões ou de amores duradouros, aliás, não quer saber de nada. Bebe quase todos os dias, escolhe suas vítimas a dedo. Não olha pra trás, nunca. Na verdade, ele não olha pra trás nem pra dar adeus. Pisa forte, pega forte, me faz delirar por incontáveis horas. Quando tudo isso acaba, é um novo ser, um novo homem. Pergunto-me todos os dias como uma pessoa consegue sufocar seus sentimentos? Quero dizer, mais do que eu.

Segundo ele, já houve amores em sua vida. Será mesmo? Pode ser que sim e pelo visto, esses amores não deixaram boas impressões e não plantaram boas sementes. Queria poder reencontrá-lo daqui a três anos e averiguar novamente a situação. Será que já teria mudado esse medo de ser apaixonar? Será que estaria com alguém? Será? Será?

De nada sei, talvez jamais saiba só sei que se não houvesse toda essa falta de vínculo amoroso de ambas as partes, eu estaria entregue a uma paixão quente, sarcástica e molhada. Quase uma mistura de mostarda com mel: dois ingredientes opostos e que criam um contraste delicioso. O nosso oposto é a coragem de expor algumas ideias que eu tenho e ele não. O que temos em comum é o fato de ele ser praticamente eu, com pelos e músculos e um pouco mais de maturidade. Que dó, seria muito bom viver um pouco da minha curta vida com ele e desfrutar de toda aquela lasciva. Quero dizer, desfrutar dele por completo e descobrir quem é o verdadeiro Senhor Mistério e toda a sua história.

Às vezes eu imagino-o como um boneco, mas um boneco com um enorme furo no peito. Talvez tenha vendido o coração no Mercado Livre por uma barganha. Quem sabe, não é? 

Mudando um pouco de foco, vou falar sobre o desempenho sexual. Sinceramente, é até difícil. Não dá pra descrever todas as expressões faciais que ele faz questão de me mostrar e nem descrever como aquela voz fica gostosa no meio do ato. Agora sim, posso citar o cavalo por completo. É um cavalo e dos mais indomáveis. Só de olhar para aquele corpo, ou até mesmo imaginar, me causa arrepios. É uma sensação inexplicável, um tesão súbito e incalculável que invade o meu corpo todas as vezes que ouço seu nome. Talvez seja recíproco, talvez. Deitaria com ele todas as noites que ele me quisesse, sem pena de satisfazer seus caprichos. Um homem que sabe como tratar uma mulher na cama não se acha em qualquer esquina.

Devo estar estupidamente encantada. Que porcaria de feitiço ele jogou em mim? Aliás, não podemos deixar de lado todos os defeitos que fazem parte desse grande personagem que é o Senhor Mistério. Além de ser um mentiroso de primeira categoria, é infiel até com ele mesmo. Irritantemente metido e, quando quer, extremamente grosso. Manter um diálogo com o Sr. Mistério é um jogo cauteloso: qualquer passo em vão e tudo o que você conquistou vai por água abaixo. Falando assim, parece que ele é o malvado da história. O pior de tudo é que ele nem é tão mal assim, tirando o fato de que ele vai te torturar quando quiser e você será obrigada a conviver com isso, é claro. Ele não é malvado, só é incompreendido... E cruel.

[+18] Posso só olhar?


Aquela visão era algo espetacular pra qualquer homem com um mínimo de testosterona no corpo. Ela tomou um banho gelado. Eu observava e via cada uma daquelas gotas que brotavam do chuveiro fazendo um pequeno tour por seu corpo. A natureza havia sido generosa com ela. Em noites quentes como aquela, não era necessário o uso da toalha e ela deixava o tempo dissipar suas incontáveis amigas líquidas.

Ela estava imóvel, debruçada na janela e completamente entregue a brisa gélida que lhe acariciava o corpo nu. Aqueles lábios rechonchudos espremidos entre suas pernas, aquela buceta rosadinha e molhada, os seios eriçados por conta do vento e o olhar fixo no céu eram quase tão poéticos quando excitantes. Eu queria agarrá-la. Melhor dizendo, eu queria foder aquela mulher por incontáveis horas, ali mesmo, naquela posição.

E fizemos. Meu corpo quente se deliciando com o corpo gelado dela. Um carinho repetitivo. Naquela noite de 40ºC, eu me deliciei com os sabores e, com aquelas mãos macias. De cima pra baixo. De baixo pra cima. Inúmeras vezes. Ápice. Pico. Gozo.

Ô, moreno


Tá tudo tão confuso. Minha cabeça está trabalhando mais do que esse ventilador de teto furreca que você me obrigou a comprar. Como pode ter dado certo? No início, parecíamos um dançante casal desengonçado. Eu pisava no seu pé, você se enrolava nas próprias pernas, girávamos até o fim do dia, naquele barzinho de beira de rua. Olha só pra gente, amor! Quero dizer, não olha não. Fica paradinho aí, desse jeitinho, deitado de bruços no travesseiro, espalhando meus lençóis, bagunçando minha cama. Já me bagunçou por inteira, nada mais importa.

Moreno, eu poderia pegar aquele Aurélio velho e empoeirado da minha estante e utilizar as mais belas palavras para te descrever, mas seria vazio demais. Não seria meu. Moreno, eu poderia pintar a Muralha da China com as mais belas frases de amor, mas seria tudo tão sem cor, tão sem vida. Não seria eu. Moreno, eu poderia desenhar nosso amor nas nuvens, nos mares, nas galáxias, mas não seria grandioso. Não seria nosso. Moreno, sabe o que é verdade? Verdade é aquela lâmina de barbear que você aposentou pra me satisfazer. Verdade é aquele copo com cheiro de vinho barato que você deixou sujo na mesa da sala. Verdade é esse pé solitário que cisma em arrancar a meia que o cobre durante a noite fria. Verdade é esse roxo no seu pescoço. Verdade é o nosso amor. Vou largar esse texto por aqui, vou deitar com você, moreno. 

Quando o amor se foi...

Meu amor. Meu doce amor. Me causa uma dor ter que te ver partir. Me causa uma dor saber que não terei mais seus beijos. Me causa uma dor saber que o mesmo arrepio que eu sentia quando seus pelos, acompanhados de sua boca, passeavam por minhas curvas, é sentido por ela. Meu coração parece parar de bater todas as vezes que olho pro nosso retrato empoleirado naquela mesinha bamba que você não conseguiu consertar. Eu não queria que fosse assim, não queria ficar sem teu cheiro, mas ela tatuou teu coração, ela te roubou de mim.

Conto os passos que separam nosso amor e o mundo lá fora. A distância do quarto pra porta da rua não parecia tão grande assim. Uma pena. Guardei tanta coisa pra você. Aliás, guardei muita coisa pra mim. Prometi que não iria te irritar pedindo para que deixasse a barba crescer, prometi que tentaria ignorar o nome dela escrito no teu pescoço, prometi que nossos “desencontros” seriam normais. Só não contava com tua paixão, não contava com tua ausência e prometeria mundos e fundos pra te ter de volta. Meu amor, boa sorte. Vá viver com ela o que nós vivemos juntos. Faça ela feliz. Seja feliz. Eu estarei por aí, distribuindo meus defeitos para outro louco qualquer, um louco tão louco que achará graça das minhas loucuras. Estarei sendo feliz.  

Confissões de uma adoradora


Tudo o que eu mais queria era um barbudo pra chamar de meu, um café requentado e meia dúzia de histórias pra contar. Quero dizer, ficaria contente só com o barbudo. Ficaria contente com a sensação que fica na pele depois de um beijo longo. Ficaria contente com o arrepio causado pelo encontro dos pelos da barba dele com os pelos da minha nuca desnuda. Ficaria contente em acariciar o rosto dele. Ficaria contente com tanta coisa com a única exigência de que fosse com ele, meu barbudo. 

Silencídio


Ela chorava. Perdia-se em lágrimas, mas não simples lágrimas. Eram lágrimas de súplica, do seu subconsciente, que corriam em seu interior e não por seu rosto. Lágrimas silenciosas e sofridas que ninguém sonhava saber que ela sempre conteve. Ela não sabia que do outro lado da cidade, um outro alguém também sofria, sentado na calçada fria, sentindo o frio do inverno percorrer sua espinha. Esse que chorava na calçada também não sabia que não muito distante daquele lugar e daquelas lágrimas, um outro "ele" chorava em seu próprio travesseiro, tentando abafar os sons que vinham de fora. Nenhum dos três tinham a mínima ligação mas eram unidos pelo mesmo motivo: o silencídio.

Poderia lhe explicar de mil maneiras o que é o silencídio, essa palavrinha bizarra que não faz sentido nenhum pra você. Silencídio é um fantasma... Não um fantasma desses filmes clichês de hoje em dia. O silencídio é um fantasma que nasce e se desenvolve em algumas pessoas, sugando toda a sua força de vontade. Sabe aquela motivação que te faz acordar todos os dias de manhã? Pessoas que vivem o silencídio se sentem tristes por ainda conseguirem abrir os olhos. Sofrem caladas e se matam mentalmente, sem ninguém saber. Normalmente, quem sofre de tal mal não conseguiu por em prática o que conhece muito bem na teoria.

A menina chorava pela perda de sua dignidade. Naquela noite infeliz, ela voltava pra casa sozinha de mais um dia cansativo no colégio e apesar de tudo, estava plenamente feliz, pois descobrira uma paixão que um amigo nutria por ela. Ficara feliz com tal revelação. O sentimento era recíproco. Foi quando ela resolveu tomar a decisão que mudaria seu destino para sempre. Cansada da cobrança dos pais em relação as notas, resolveu dar uma volta maior, para arejar as ideias, e seguiu por um quarteirão mais distante de sua casa, mas que a levava ao mesmo lugar. Foi quando ele apareceu e levou dela o sopro da pureza.

Ele chorava no canto da calçada, em frente a um bar fechado. Ele sabia que não tinha culpa de nada, mas mesmo assim, preferia agravar a dor culpando-se por ter brigado com ela. O celular ainda mantinha a chamada conectada, mas ele não tinha forças pra falar mais nada e muito menos apertar um simples botão para que aquela chamada gélida e cruel se encerrasse. Ele sabia que sua conduta não era uma das melhores. Vivia noites de diversão enquanto ela lia livros, rezando para que ele voltasse bem pra casa. Foi tudo rápido demais, segundo o depoimento do vizinho. Ela saiu de casa para buscar a pizza do sabor favorito dele. Ela só queria comer um pedaço e o resto ficaria sobre a mesa, esperando ele chegar, como sempre ocorria. Brigaram naquela noite, antes dele sair. Ela só queria mais um tempo com ele, não se esbarravam há muito e precisavam conversar. Grosseiro, fez-se um estrondo quando bateu a porta e deu “adeus” à ela, dizendo que iria dar uma volta. Aquele maldito pedófilo bateu em retirada com a chegada da policia e não prestou atenção na mulher envolta em um roupão que gentilmente, checava se a pizza tinha vindo em bom estado. E lá se foi ela... A pizza estava em bom estado. Ela, não mais.

Pobre menino. Não entendia o que estava acontecendo com seus pais. De uns tempos pra cá, eles só gritavam e se batiam. Ele ouvira parte das conversas e algo sobre morte e prisão ecoava em sua cabeça. Pobre menino. Perdera sua inocência tão cedo, nas longas noites que via seu pai entrar no quarto e tampar sua boca. Ele não entendia e era melhor assim. Só conseguia ouvir os murmurinhos vindos do andar de baixo que vizinhas fofoqueiras faziam. “Essas malditas”, pensava ele. O veneno ia sendo destilado pouco a pouco, enquanto sua mãe gritava que não merecia todo aquele sofrimento e pedia um calmante com urgência. Ele ficava imaginando o motivo daquilo tudo e onde estava seu pai. Talvez estivesse “brincando” com algumas meninas. Pobre menino.

Foi nessa noite de inverno, gélida e cruel que ocorriam os silencídios de três pessoas aparentemente distantes, mas que se uniram por um motivo maior: não se prenderam somente ao silencídio, reuniram forças e se retiraram do mundo. Dormiram pra sempre. Ela preferiu colorir a água da banheira de vermelho. Ele aproveitou um amigo liberal e resolveu colorir sua mente, transformando tudo em um paraíso artificial. O menino, pobre menino, também tomou calmantes. Calmantes demais. 

A Menina do Sorriso Largo


Noite qualquer, em um fim de semana qualquer, em uma boate qualquer. Perdido entre as luzes e cansado pela semana, ia se desvencilhando do mundo... Copo a copo. Mas não estava sozinho... Ninguém está.

Ela sorria, ela encarava, ela se contorcia. Era seu pequeno espetáculo, sua apresentação jamais ensaiada e mal ela sabia que havia plateia. E a plateia estava sedenta por seus movimentos, sedenta por seu mistério não tão misterioso assim. Batom vermelho, cabelos livres, vestido curto. Era o combo perfeito para que todos a olhassem. Todos não, apenas ele conseguia enxergar algo além... Algo além da menina do sorriso largo. Alguns podem entender mal, mas ela só queria se divertir e sua diversão era caçar. Caçar um calor, quiçá um amor. Lançava olhares para todos do recinto, dançava com todos que se aproximavam, todos queriam saber quem era a menina do sorriso largo, qual nome tal “divindade” carregava e o quão quente ela poderia ser.

Ela caminhou sorridente até o bar aonde as esperanças iam se perdendo em copos de uísque. Sorriu para ele que respondeu carinhosamente lhe oferecendo uma bebida. A menina do sorriso largo fez o que fazia de melhor e sorriu, aceitando o convite. Beberam juntos, riram juntos, se olharam e ao fim, se desejaram juntos. Ele, como todo bom galanteador, partiu para o segundo passo e perguntou se ela não gostaria de conversar em um lugar mais reservado. É claro que ela queria, já tinha conseguido sua presa, já tinha conseguido seu calor.

 Saíram juntos do local que chegaram separados e caminharam até um carro. Ele não agiu de maneira educada, não naquela noite, e pouco se importou em abrir a porta pra ela. Ela também não ligava, era diferente demais pra se prender a poucas coisas. Em pouco tempo de conversa, marcas de batom já se prendiam ao seu pescoço e fios de cabelo iam caindo ao serem puxados. Estava tudo caminhando de maneira certa para os dois. Conforto era uma palavra que se perdera no meio do caminho, ou melhor dizendo, no meio dos botões da camisa.

Ela perguntou se ele não queria ir a um lugar melhor e ele aceitou a proposta. Dirigiram até o apartamento dela, trocando carícias e olhares tão penetrantes que pareciam rajadas de calor partindo de uma escuridão sem fim. Chegaram e rapidamente subiram dispostos a exporem os desejos que estavam sendo contidos desde os largos sorrisos no bar. Ela o levou a seu quarto e pediu que ele esperasse. Saiu em disparada pro banheiro e ele não entendia o porquê de tanto mistério, mas estava gostando tanto que pouco se importou. Tratou logo de se despir e esperar sua “musa” retornar, e ela retornou, nua, mostrando cada pedacinho da coisa que mais lhe excitava. Não, não estamos falando de partes íntimas e sim de pele. Sim, pele. Aquela pele macia e com cheiro de baunilha o fazia delirar. Era como tocar o Paraíso e ter a sensação de ser tocado pelo mesmo. Sem mais rodeios, ela partiu pra cima e consumiu o resto de energia que ele tinha guardado durante a semana.

Suor, gemidos, baunilha... Ele agradecia por ter saído pra beber. Ela agradecia por não ter ido dormir sozinha. Adormeceram juntos, mas acordaram separados. Ele já partira quando os primeiros raios de Sol tocaram o rosto dela e ela sorriu por dentro, esperançosa. Ao chegar em casa, ele notou algo diferente em seu bolso. Lá estava o que ele não esperava encontrar.

“8734-9084, volte quando quiser. Anna.”