segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Doze badaladas, hora de voltar

Quando eu era criança, eu tinha inúmeros filmes de princesas e histórias encantadas, mas uma, em especial, sempre me chamou mais atenção: Cinderella. O conceito de gata-borralheira sempre me encheu os olhos, imaginava o dia que minha vida iria virar um conto de fadas como foi pra ela. Imaginava o dia em que iria encontrar meu príncipe encantado em um baile mágico. De fato, isso aconteceu. Encontrei meu suposto príncipe no Carnaval e nosso baile durou quase dois anos, mas, assim como na história de Cinderella, parece que o relógio finalmente marcou meia noite e já está na hora de voltar pra casa. Corro desesperadamente pra longe do que estou sentindo, corro pra longe dele e corro pra longe de mim. Minha carruagem já virou abóbora, meu vestido se rasgou inteiro e meu sapatinho de cristal ficou pelo caminho. Talvez o sapato seja a única ligação que temos ainda, o sapato é o último suspiro, a última tentativa de nos encontrarmos mais uma vez, de nos encontrarmos nesse emaranhado de amor, dor e problemas infinitos. O sapato é a chance que dei para nós e ela está nas mãos dele. Talvez ele me procure pelos quatro cantos do mundo, como foi na história original. Talvez ele me procure nele mesmo. Talvez ele me procure onde ele sabe que eu sempre estou. Mas, talvez, ele prefira entregar o sapato para outra. Quantas não cortariam os dedos dos pés para me substituir? Quantas? Eu acho que todas fariam. Ou a grande maioria. Uma vez eu disse que ele era um diamante bruto e é verdade. Só basta cair em mãos certas para que se torne uma linda joia. E eu? Eu, meu caro leitor, volto a ser poeira humana, volto a buscar o real sentindo da vida, volto a lavar e cozinhar, afinal, sou apenas mais uma gata-borralheira. Princesas são modelos cruéis da perfeição e contos de fadas não existem. Não mais.