segunda-feira, 30 de junho de 2014

Novo Testamento

Sempre tive medo de lugares apertados, de ruas sem saída, de janelas com grades. Correntes? Apenas para bicicletas. Algemas? Policiais. Jaulas? Nem pra bicho. É engraçado ouvir você me dizer que sou obsessiva. Eu confesso meu crime! Os muitos anos que fui religiosa me transformaram na pessoa mais sem fé que conheço, mas virei tua devota, depositei o que restava da minha crença em ti e te canonizei. Soa dramático e exagerado? Você  sabe... Drama e exagero são partes inseparáveis da minha personalidade. Eu sei que teu tempo não é só meu, mas se eu pudesse... Ah! Se eu pudesse, meu amor, eu quebraria todos os relógios, eu desmarcaria todos os nossos compromissos e seria a pessoa mais egoísta do mundo. Te ter por mais alguns minutos limparia minha consciência e absolveria meus pecados. 

Minhas asas foram cortadas. Minhas mãos amarradas. Ando precisando de lobotomia. Talvez um exorcista ou um padre, muitas vezes não sei se isso é demoníaco ou divino, sei que é puro, puramente ruim e puramente belo. Se existe um purgatório, que tenham piedade de mim e me deixem por lá mesmo! Anjos e demônios não conversam com almas perdidas. Almas perdidas estão ocupadas demais, andando sozinhas e procurando caminhos. Não me entenda mal, já achei minha companhia e meu caminho, mas continuo perdida. 

Perdidamente entregue à ti, monsenhor.