sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Vestido rasgado

Eu fico pensando em quanto você sofreu, em quanto se magoou, em quanto se feriu. Fico pensando com que tipo de mulheres você lidou e o quanto elas foram tolas por terem te perdido. Você foi o vestido favorito delas. Foi usado, lavado e, depois de tudo, foi esquecido no fundo do cesto de roupa suja e trocado por um novo. Rapaz, não chore, ao menos você teve o prazer de vestir outras mulheres. O pior é que você sempre pensou que era o mais esperto, não adianta negar, todo mundo já sabe. Você era só um vestido bonito pra elas. 

Te comparar com uma peça de roupa é cruel, eu sei. Você é mais que isso, mas não para elas. Moço, você é meu novo colar de brilhantes. Ou minha nova coleira, você decide. Tenha certeza que colares não são trocados e nem esquecidos, toda mulher gosta de um diamante, já dizia minha amiga Mary. O que me deixa triste é saber que eu nunca te terei por completo. Você foi morrendo aos poucos, foi desgastando e sendo devorado por traças. Se eu pudesse te ver em forma de vestido, não te tiraria da arara. Você seria aquele vestido da última coleção, esquecido no fundo da loja e qualquer louca que tentasse te levar pra casa, não entraria em ti. Mas aí eu te vi e pude enxergar um diamente bruto, só esperando ser lapidado. Te levei pra casa, te dei carinho e venho deixando você ter o prazer de cobrir meu pescoço. Você me deixa mais bonita, mais confiante e menos solitária. Não te tiraria nunca do pescoço, não te jogaria nunca num cesto de roupa suja e tenho pena. Tenho pena das tolas que só conseguiram enxergar um vestido bonito em um homem que brilhava feito diamante. 

Vírus do ciúme

Se por acaso eu reclamar de dores no cotovelo, partir e não te atender no dia seguinte, fique atento: isso pode ser o vírus do ciúme. Claro, pode ser qualquer outra bobeira feminina e é melhor me levar ao médico antes de me dar qualquer tipo de medicamento. Se o resultado do exame der positivo, compre os remédios e comece o tratamento imediatamente. O comportamento varia de um paciente para o outro, mas os sintomas mais comuns da fase do tratamento são: orgulho e vingança. Fique bem atento pois se houver vingança, o vírus pode ser transmitido para a outra pessoa de forma silenciosa e outros cotovelos doerão. Se houver orgulho, o paciente pode se recusar a tomar os remédios preescritos pelo médico, dificultando o tratamento. Leia a bula para saber dos efeitos colateráis. Remédios como Conversar e Esquecer são ótimos para o paciente que apresenta sintomas de orgulho. Já os vingativos podem se tratar também com o Perdoar 750mg. 

Essa é uma doença que ainda está sendo estudada, qualquer sintoma parecido deve ser observado e tratado o mais breve possível. Pessoas que possuem tal doença tendem a serem mais desconfiadas e mais infelizes que as outras. Cuide-se e peça para o seu parceiro se cuidar também. O Ministério dos Relacionamentos agradece.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A droga

Ela nunca tinha experimentado essa, apesar de todas as suas amigas já terem passado por isso antes. Algumas delas disseram que era maravilhoso, coisa forte, das boas. Outras disseram que álcool e cocaína deixavam marcas mais leves. A curiosidade batia nas portas daquele corpo sedento por novidade e tudo aconteceu ao lado dele. Se conheceram numa festa, Carnaval, sabe? Festa grande, gente conhecida e muito barulho. Começaram com simples palavras, simples conversas, simples telefonemas e simples beijos. Quando viram, já estavam entrelaçados e enrolados naquela linha invisível que costumava unir os casais. Foi ali que tudo começou... 

Ele já tinha usado antes, já sabia como a coisa toda funcionava e já sabia a dose certa pra não se viciar. Ela era novata, era carne fresca e ele podia ver o medo nos olhos dela. Sua primeira dose foi entregue pelas mãos dele. Dizem por aí que quase 90% das pessoas que usam se viciam de primeira. Ela não foi exceção e se viciou. A primeira vez é sempre a que marca mais, certo? Errado, não com essa droga. A primeira vez era apenas a iniciação por um caminho incerto, torto e esburacado. Ela tinha muitos dias felizes ao lado dele e de sua nova companheira. Eram dias que ela não queria que acabassem, dias coloridos e ensolarados. Ela quase podia sentir o próprio coração batendo nas mãos dele. Aquilo saiu do controle e ele não sabia mais o que fazer. Como dizer à ela que ele não lhe daria nunca mais a dose diária de sua droga favorita? Como explicar à um viciado que toda a droga se foi? Ele não queria encará-la, apenas foi diminuindo aos poucos a dosagem. Ela sentiu, ela percebeu, ela se queixou e implorou por mais, até que um dia ele interditou de vez o "caminho da felicidade" que ela tanto gostava. Ela parou, fingiu que estava tudo bem, tentou tocar a vida e surtou. Enquanto esperava sentada no canto do banheiro pensou no quanto se arrependia do que tinha experimentado, pensou que se pudesse voltar no tempo, voltaria naquela festa e teria passado direto por ele. Em contrapartida, pensou que se seguisse direto, teria esbarrado em outro que iria lhe oferecer a droga responsável pela sua ruína.

 Antes de fechar os olhos para sempre, concluiu que todo mundo, no fundo, era viciado na mesma droga que ela, mas que todos eles sabiam tomar as doses certas.

 Antes disso tudo, sentiu um gosto amargo na boca e desejou só mais um pouquinho da droga do amor.