Olhar fixo, inerte, sem brilho algum, quase doentio. Contempla o trajeto cotidiano com a indiferença de quem se perde em seus pensamentos, ou na falta deles. Para ele, pouco importa quem está ao seu lado, por trás, na sua frente. Lá fora é o que importa, e é lá que sua atenção aparentemente morta permanece, por intermináveis minutos.
Outros olhares são mais inquietos, atentos. Quase nada passa despercebido: “Aquele tênis sujo, deve haver meses que não são lavados”, “Aquela moça bonita que entrou, sentou-se em outro lugar, droga! Me ajeitei no banco pra lhe ceder lugar e quem sentou do meu lado foi essa senhora que insiste em puxar conversa”, “O cara tá lendo no meio de todo mundo. Será que gosta de ler tanto assim, ou quer pagar de inteligente?”. Pensantes, enquanto observam a mistura matinal de todo dia.
Aqui se pensa de tudo, por que tudo é permitido pensar. Ninguém vai saber mesmo! Mas eu queria, sou curioso. Pena não conseguir ler os pensamentos de todos. O que será que está pensando o garotinho no colo do pai? Será que tá achando que aqui dentro balança muito? E esse cara em pé, atrás da moça de bumbum lindo, se inclinando pra frente, encostando, nojento, no que será que está pensando agora? Tem aquele senhor idoso que tem preferência, muitas rugas, cabelos brancos, conhecedor de tudo o que é dor, no que será que tá pensando agora? Será que acha que, valeu a pena?
Olhos se encontram e se desencontram em uma rapidez tímida e incrível. São tantos rostos: tristes, alegres, sofridos, ingênuos...Tantos detalhes: Narizes, uns grandes e outros pequenos. Olhos de todas as cores, uns pintados e outros sonolentos. Bocas beijáveis, perfumes baratos, cabelos minuciosamente arrumados, outros carentes de tempo para serem penteados. Uniformes, escolares, do trabalho, quase sempre odiados. Possibilidades se misturam aqui, incontáveis.
Todo dia é assim, o trajeto é sempre o mesmo, mas sempre algo se renova, pode ser uma roupa, um cheiro, um sorriso, ou quem sabe um “alô” ao celular. Rotina, é ela quem dita as regras, e a minha, me diz que tá na hora de dar o sinal e descer, minha parada chegou.
Autor: Leo Spindola
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Nada de flores
Demoníaca era a palavra perfeita para definir Rosa.
Esculpida perfeitamente, possuía uma beleza estonteante que poderia enlouquecer
os mais fracos de mente. Todos que caíam em suas redes instantaneamente se
tornavam reféns. Era paixão a primeira vista.
Quantos casamentos ela destruiu? Quantos namoros ela rompeu?
Quantos corações partiu? Isso pouco importava pra ela, aliás, essa era sua
missão. Rosa sugava os pobres que se aventuravam com ela. Ela os cativava,
iludia e depois ia embora, sem mais nem menos. As pobres vítimas de suas
armadilhas voltavam para casa atordoadas com tudo o que acontecera. Mulheres
inocentes eram traídas. Homens traidores eram amaldiçoados e passavam o resto
da vida com Rosa em seus pensamentos. Ela era má. Era uma súcubo do amor.
Rosa viveu sua infância e juventude traindo todos. E foi
envelhecendo... Envelhecendo...
Envelhecendo e cedendo sua beleza para dar lugar a rugas e cabelos
brancos que cresciam. Rosa não tinha ninguém, nunca teve e nunca terá.
Rosa partiu tantos
corações. Rosa partiu o próprio coração e morreu sozinha no tapete da sala. Ela só será lembrada por quem magoou, por quem
iludiu e por quem destruiu. Não haverá flores no enterro de Rosa. Nem orações.
Nem ninguém.
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Bilhetes na madrugada
Ela se espreguiçava, se esticava todinha e sorria. Apoiada
naquele balcão sujo, servindo o próprio corpo em troca de algum dinheiro. Essa
era Sandra, ou como era conhecida na região, Sandrinha. Lábios carnudos, olhos
penetrantes e longo cabelo cacheado. Seios fartos, belas pernas e uma bunda
deliciosa. Sandra, Sandrinha, meu amor.
Tolo, idiota, otário, esses eram os apelidos que havia
recebido de meus amigos. Não discordei nenhum momento, se apaixonar por uma
mulher da vida não é aconselhável. Saber que outros passeiam pelo corpo de minha
pequena me dói. Queria tirar Sandrinha dessa vida, já falei pra ela que eu coloco
casa e até uso anel. Sandra não quer, ela gosta da promiscuidade, gosta de ser
desejada por todos os homens, gosta de sexo. Acho que Sandra é ninfomaníaca.
Tô aqui há uns 20 minutos com cara de idiota olhando pra ela
e escrevendo numa porcaria de bloquinho. Ela não parou um instante. Já falou
com todos os homens do bar, trocou uma caralhada de telefones, já empinou a
bunda apoiada no balcão e já arrancou dinheiro de muitos. Ela é foda. Ela é
linda, uma deusa e não é minha. Por que você faz assim comigo, Sandra? Logo eu, que era o seu “melhor cliente”...
Edu.
-
Edu, não sei se você conseguiria me entender. Tô te vendo
sentado com cara de idiota e escrevendo. Já fiz uma boa grana hoje e estou só
esperando você me chamar pra fechar a noite. Eu só quero sexo e dinheiro, nada
mais. Pare de me mandar bilhetinhos durante o meu expediente, você sabe que o
Marcão é bravo e não gosta dessas intimidades. Se quiser, vou fazer um precinho
camarada pra você, 50 “pilas” a hora.
Sandrinha.
-
Edu, mais um bilhetinho pra Sandrinha no meio do expediente
dela e eu te apago.
Marcão.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Venham escutar o amor cantar!
E por alguns minutos, aqueles jovens preencheram todo o ônibus com um misto de sentimentos que eu jamais conseguiria te explicar, meu amigo.
Houve quem reclamou por estar cansado e por não conseguir tirar uma pestana. Houve quem só observou, os olhos estatelados e boca inquieta (mesmo sem dizer nada). Houve quem se aninhou, sorriu, cantou junto e até bateu palma.
Sinceramente, isso de nada importa. Naquele momento, todos puderam agir de forma verdadeira, alguns até pela primeira vez na vida. Todos conseguiram ser uma única voz e, até os mais ranzinzas, sentiram a dor do silêncio quando o grupo partiu.
O grupo se dissipou. O grupo se foi. Nós nos separamos. Eu me calei. Porém, a música em nossos corações jovens e valentes, nunca cessou. Nunca cessa. Para todo o sempre.
Houve quem reclamou por estar cansado e por não conseguir tirar uma pestana. Houve quem só observou, os olhos estatelados e boca inquieta (mesmo sem dizer nada). Houve quem se aninhou, sorriu, cantou junto e até bateu palma.
Sinceramente, isso de nada importa. Naquele momento, todos puderam agir de forma verdadeira, alguns até pela primeira vez na vida. Todos conseguiram ser uma única voz e, até os mais ranzinzas, sentiram a dor do silêncio quando o grupo partiu.
O grupo se dissipou. O grupo se foi. Nós nos separamos. Eu me calei. Porém, a música em nossos corações jovens e valentes, nunca cessou. Nunca cessa. Para todo o sempre.
[+18] Lembranças de uma noite de verão
Estou acordada, lembrando da nossa última noite. E pensar
que sufocamos o mesmo sentimento durante um bom tempo. Aliás, acho que não
seria bem um sentimento. Enfim, deixo gravado aqui todas as delícias que vivencie
com ela.
Ela chegou aqui em casa por volta de umas oito da noite e
estava radiante como sempre. Ela é minha melhor amiga ou pelo menos era...
Jogamos conversa fora, falamos sobre homens, sobre moda, sobre o universo de
futilidade que envolve toda e qualquer mulher. Bebemos algumas latinhas de
cerveja e depois nos preparamos para assistir um filme qualquer sobre um casal
qualquer. Foi então que tudo começou. Com as luzes da sala já apagadas e ela
totalmente à vontade com o vestido que usava, meu corpo pediu por ela. Devia
ser carência. Fui chegando mais perto, arrastando meus dedos sonolentos num
movimento contínuo e calculado. Meu coração devia estar a mil, como eu queria
aquela mulher... Ela notou algo estranho e perguntou se eu não estava me
sentindo bem, eu fiz um gesto que esclarecia a pergunta e me voltei ao filme.
Já não aguentava mais observá-la no canto dos olhos, tudo o
que eu mais queria era explorar cada pedacinho dela. Sentei de frente pra ela e
fiquei observando-a. Ela deu de ombros e disse que queria mais cerveja. Eu
estava tão tensa que deitei e sobrepus um braço tampando-me a visão. Senti um
corpo quente encaixando-se no meu e logo abri os olhos. Ela me encarava como se
quisesse me invadir e eu, totalmente a favor dessa invasão, aproveitei para analisar
cada curva de minha amiga. Inclinando seu corpo sobre o meu, ela deixou que sua
língua escapasse e fosse de encontro a minha. Nos beijamos por intermináveis
minutos. Era um beijo descompassado, confesso, mas estava deliciosamente me
causando arrepios nas pernas e um alvoroço entre as mesmas.
Inverti nossas posições e passei a beijar-lhe o pescoço.
Aqueles longos fios negros eram meio inconvenientes e se metiam entre um beijo
e outro que eu despejava nela. Minhas mãos passeavam novamente por suas belas
curvas e almejavam por sua pele. Arranquei-lhe o vestido e passei a despejar
meus beijos por seus seios. Ela pedia mais e delicadamente posicionava minha
mão para melhor satisfazê-la. Eu passava minha língua por aqueles mamilos
rosados enquanto subia e descia um dedo por sua calcinha. Chupava, mordiscava,
lambia, provocava e me contorcia de tesão vendo a carinha de prazer que ela
fazia. Fui descendo meus beijos por sua barriga, passei minha língua por suas
pernas entreabertas e cheguei onde queria. Abri um pouco mais suas pernas e
contemplei aquela delícia rosa e molhada.
Meus dedos, não mais sonolentos, deslizavam de um lado pro
outro enquanto outros dois exploravam mais afundo. Ela gemia baixinho, só pra
mim. Prolonguei o movimento até sentir algo quente escorrer por minhas mãos.
Tirei minha roupa. Voltei a chupar seus seios. Passava minha língua de um lado
pro outro enquanto meus dedos a masturbavam. Ela se contorcia e me arranhava.
Desci e enfiei minha língua entre suas pernas. Chupava sua delícia rosada,
sentia o gostinho dela na minha boca e explorava cada cantinho com meus dedos.
Jamais me esquecerei dos gemidos dela. Chupava enquanto introduzia dois dedos
nela. Acelerei o movimento e senti seu corpo estremecer e depois relaxar,
enquanto minha boca se enchia de seu líquido quente.
Exaustas e suadas, nuas no chão da sala. Deitei ao lado dela
e ela sorriu pra mim. Nos beijamos mais uma vez e ela retribuiu o meu esforço.
Me masturbou e me chupou até o ápice do meu gozo. Que mulher! Dormimos e agora
estou aqui, no meio da madrugada, escrevendo sobre nós duas. Acho que vou
acordá-la mais uma vez...
Um vilão nem tão vilão assim
Extremamente atraente. Convincentemente seguro. Um poço se sensualidade e
mistério que envolve qualquer pessoa em questão de segundos. Não quer saber de
compromissos, de paixões ou de amores duradouros, aliás, não quer saber de
nada. Bebe quase todos os dias, escolhe suas vítimas a dedo. Não olha pra trás,
nunca. Na verdade, ele não olha pra trás nem pra dar adeus. Pisa forte, pega
forte, me faz delirar por incontáveis horas. Quando tudo isso acaba, é um novo
ser, um novo homem. Pergunto-me todos os dias como uma pessoa consegue sufocar
seus sentimentos? Quero dizer, mais do que eu.
Segundo ele, já houve amores em sua vida. Será mesmo? Pode
ser que sim e pelo visto, esses amores não deixaram boas impressões e não
plantaram boas sementes. Queria poder reencontrá-lo daqui a três anos e
averiguar novamente a situação. Será que já teria mudado esse medo de ser
apaixonar? Será que estaria com alguém? Será? Será?
De nada sei, talvez jamais saiba só sei que se não houvesse
toda essa falta de vínculo amoroso de ambas as partes, eu estaria entregue a
uma paixão quente, sarcástica e molhada. Quase uma mistura de mostarda com mel:
dois ingredientes opostos e que criam um contraste delicioso. O nosso oposto é
a coragem de expor algumas ideias que eu tenho e ele não. O que temos em comum
é o fato de ele ser praticamente eu, com pelos e músculos e um pouco mais de
maturidade. Que dó, seria muito bom viver um pouco da minha curta vida com ele
e desfrutar de toda aquela lasciva. Quero dizer, desfrutar dele por completo e
descobrir quem é o verdadeiro Senhor Mistério e toda a sua história.
Às vezes eu imagino-o como um boneco, mas um boneco com um
enorme furo no peito. Talvez tenha vendido o coração no Mercado Livre por uma
barganha. Quem sabe, não é?
Mudando um pouco de foco, vou falar sobre o desempenho
sexual. Sinceramente, é até difícil. Não dá pra descrever todas as expressões
faciais que ele faz questão de me mostrar e nem descrever como aquela voz fica
gostosa no meio do ato. Agora sim, posso citar o cavalo por completo. É um
cavalo e dos mais indomáveis. Só de olhar para aquele corpo, ou até mesmo
imaginar, me causa arrepios. É uma sensação inexplicável, um tesão súbito e
incalculável que invade o meu corpo todas as vezes que ouço seu nome. Talvez
seja recíproco, talvez. Deitaria com ele todas as noites que ele me quisesse,
sem pena de satisfazer seus caprichos. Um homem que sabe como tratar uma mulher
na cama não se acha em qualquer esquina.
Devo estar estupidamente encantada. Que porcaria de feitiço
ele jogou em mim? Aliás, não podemos deixar de lado todos os defeitos que fazem
parte desse grande personagem que é o Senhor Mistério. Além de ser um mentiroso
de primeira categoria, é infiel até com ele mesmo. Irritantemente metido e,
quando quer, extremamente grosso. Manter um diálogo com o Sr. Mistério é um
jogo cauteloso: qualquer passo em vão e tudo o que você conquistou vai por água
abaixo. Falando assim, parece que ele é o malvado da história. O pior de tudo é
que ele nem é tão mal assim, tirando o fato de que ele vai te torturar quando
quiser e você será obrigada a conviver com isso, é claro. Ele não é malvado, só
é incompreendido... E cruel.
[+18] Posso só olhar?
Aquela visão era algo espetacular pra qualquer homem com um
mínimo de testosterona no corpo. Ela tomou um banho gelado. Eu observava e via
cada uma daquelas gotas que brotavam do chuveiro fazendo um pequeno tour por
seu corpo. A natureza havia sido generosa com ela. Em noites quentes como
aquela, não era necessário o uso da toalha e ela deixava o tempo dissipar suas
incontáveis amigas líquidas.
Ela estava imóvel, debruçada na janela e completamente
entregue a brisa gélida que lhe acariciava o corpo nu. Aqueles lábios
rechonchudos espremidos entre suas pernas, aquela buceta rosadinha e molhada,
os seios eriçados por conta do vento e o olhar fixo no céu eram quase tão
poéticos quando excitantes. Eu queria agarrá-la. Melhor dizendo, eu queria
foder aquela mulher por incontáveis horas, ali mesmo, naquela posição.
E fizemos. Meu corpo quente se deliciando com o corpo gelado
dela. Um carinho repetitivo. Naquela noite de 40ºC, eu me deliciei com os
sabores e, com aquelas mãos macias. De cima pra baixo. De baixo pra cima.
Inúmeras vezes. Ápice. Pico. Gozo.
Ô, moreno
Tá tudo tão confuso. Minha cabeça está trabalhando mais do
que esse ventilador de teto furreca que você me obrigou a comprar. Como pode
ter dado certo? No início, parecíamos um dançante casal desengonçado. Eu pisava
no seu pé, você se enrolava nas próprias pernas, girávamos até o fim do dia,
naquele barzinho de beira de rua. Olha só pra gente, amor! Quero dizer, não
olha não. Fica paradinho aí, desse jeitinho, deitado de bruços no travesseiro,
espalhando meus lençóis, bagunçando minha cama. Já me bagunçou por inteira,
nada mais importa.
Moreno, eu poderia pegar aquele Aurélio velho e empoeirado
da minha estante e utilizar as mais belas palavras para te descrever, mas seria
vazio demais. Não seria meu. Moreno, eu poderia pintar a Muralha da China com
as mais belas frases de amor, mas seria tudo tão sem cor, tão sem vida. Não
seria eu. Moreno, eu poderia desenhar nosso amor nas nuvens, nos mares, nas
galáxias, mas não seria grandioso. Não seria nosso. Moreno, sabe o que é
verdade? Verdade é aquela lâmina de barbear que você aposentou pra me
satisfazer. Verdade é aquele copo com cheiro de vinho barato que você deixou
sujo na mesa da sala. Verdade é esse pé solitário que cisma em arrancar a meia
que o cobre durante a noite fria. Verdade é esse roxo no seu pescoço. Verdade é
o nosso amor. Vou largar esse texto por aqui, vou deitar com você, moreno.
Quando o amor se foi...
Meu amor. Meu doce amor. Me causa uma dor ter que te ver
partir. Me causa uma dor saber que não terei mais seus beijos. Me causa uma dor
saber que o mesmo arrepio que eu sentia quando seus pelos, acompanhados de sua
boca, passeavam por minhas curvas, é sentido por ela. Meu coração parece parar
de bater todas as vezes que olho pro nosso retrato empoleirado naquela mesinha
bamba que você não conseguiu consertar. Eu não queria que fosse assim, não
queria ficar sem teu cheiro, mas ela tatuou teu coração, ela te roubou de mim.
Conto os passos que separam nosso amor e o mundo lá fora. A
distância do quarto pra porta da rua não parecia tão grande assim. Uma pena.
Guardei tanta coisa pra você. Aliás, guardei muita coisa pra mim. Prometi que
não iria te irritar pedindo para que deixasse a barba crescer, prometi que
tentaria ignorar o nome dela escrito no teu pescoço, prometi que nossos
“desencontros” seriam normais. Só não contava com tua paixão, não contava com
tua ausência e prometeria mundos e fundos pra te ter de volta. Meu amor, boa
sorte. Vá viver com ela o que nós vivemos juntos. Faça ela feliz. Seja feliz.
Eu estarei por aí, distribuindo meus defeitos para outro louco qualquer, um
louco tão louco que achará graça das minhas loucuras. Estarei sendo feliz.
Confissões de uma adoradora
Tudo o que eu mais queria era um barbudo pra chamar de meu,
um café requentado e meia dúzia de histórias pra contar. Quero dizer, ficaria
contente só com o barbudo. Ficaria contente com a sensação que fica na pele
depois de um beijo longo. Ficaria contente com o arrepio causado pelo encontro
dos pelos da barba dele com os pelos da minha nuca desnuda. Ficaria contente em
acariciar o rosto dele. Ficaria contente com tanta coisa com a única exigência
de que fosse com ele, meu barbudo.
Silencídio
Ela chorava. Perdia-se em lágrimas, mas não simples
lágrimas. Eram lágrimas de súplica, do seu subconsciente, que corriam em seu
interior e não por seu rosto. Lágrimas silenciosas e sofridas que ninguém
sonhava saber que ela sempre conteve. Ela não sabia que do outro lado da
cidade, um outro alguém também sofria, sentado na calçada fria, sentindo o frio
do inverno percorrer sua espinha. Esse que chorava na calçada também não sabia
que não muito distante daquele lugar e daquelas lágrimas, um outro "ele" chorava
em seu próprio travesseiro, tentando abafar os sons que vinham de fora. Nenhum
dos três tinham a mínima ligação mas eram unidos pelo mesmo motivo: o
silencídio.
Poderia lhe explicar de mil maneiras o que é o silencídio,
essa palavrinha bizarra que não faz sentido nenhum pra você. Silencídio é um
fantasma... Não um fantasma desses filmes clichês de hoje em dia. O silencídio
é um fantasma que nasce e se desenvolve em algumas pessoas, sugando toda a sua
força de vontade. Sabe aquela motivação que te faz acordar todos os dias de
manhã? Pessoas que vivem o silencídio se sentem tristes por ainda conseguirem
abrir os olhos. Sofrem caladas e se matam mentalmente, sem ninguém saber.
Normalmente, quem sofre de tal mal não conseguiu por em prática o que conhece
muito bem na teoria.
A menina chorava pela perda de sua dignidade. Naquela noite
infeliz, ela voltava pra casa sozinha de mais um dia cansativo no colégio e
apesar de tudo, estava plenamente feliz, pois descobrira uma paixão que um
amigo nutria por ela. Ficara feliz com tal revelação. O sentimento era
recíproco. Foi quando ela resolveu tomar a decisão que mudaria seu destino para
sempre. Cansada da cobrança dos pais em relação as notas, resolveu dar uma
volta maior, para arejar as ideias, e seguiu por um quarteirão mais distante de
sua casa, mas que a levava ao mesmo lugar. Foi quando ele apareceu e levou dela
o sopro da pureza.
Ele chorava no canto da calçada, em frente a um bar fechado.
Ele sabia que não tinha culpa de nada, mas mesmo assim, preferia agravar a dor
culpando-se por ter brigado com ela. O celular ainda mantinha a chamada
conectada, mas ele não tinha forças pra falar mais nada e muito menos apertar
um simples botão para que aquela chamada gélida e cruel se encerrasse. Ele
sabia que sua conduta não era uma das melhores. Vivia noites de diversão
enquanto ela lia livros, rezando para que ele voltasse bem pra casa. Foi tudo
rápido demais, segundo o depoimento do vizinho. Ela saiu de casa para buscar a
pizza do sabor favorito dele. Ela só queria comer um pedaço e o resto ficaria
sobre a mesa, esperando ele chegar, como sempre ocorria. Brigaram naquela
noite, antes dele sair. Ela só queria mais um tempo com ele, não se esbarravam
há muito e precisavam conversar. Grosseiro, fez-se um estrondo quando bateu a
porta e deu “adeus” à ela, dizendo que iria dar uma volta. Aquele maldito
pedófilo bateu em retirada com a chegada da policia e não prestou atenção na
mulher envolta em um roupão que gentilmente, checava se a pizza tinha vindo em
bom estado. E lá se foi ela... A pizza estava em bom estado. Ela, não mais.
Pobre menino. Não entendia o que estava acontecendo com seus
pais. De uns tempos pra cá, eles só gritavam e se batiam. Ele ouvira parte das
conversas e algo sobre morte e prisão ecoava em sua cabeça. Pobre menino.
Perdera sua inocência tão cedo, nas longas noites que via seu pai entrar no
quarto e tampar sua boca. Ele não entendia e era melhor assim. Só conseguia
ouvir os murmurinhos vindos do andar de baixo que vizinhas fofoqueiras faziam.
“Essas malditas”, pensava ele. O veneno ia sendo destilado pouco a pouco,
enquanto sua mãe gritava que não merecia todo aquele sofrimento e pedia um
calmante com urgência. Ele ficava imaginando o motivo daquilo tudo e onde
estava seu pai. Talvez estivesse “brincando” com algumas meninas. Pobre menino.
Foi nessa noite de inverno, gélida e cruel que ocorriam os
silencídios de três pessoas aparentemente distantes, mas que se uniram por um
motivo maior: não se prenderam somente ao silencídio, reuniram forças e se
retiraram do mundo. Dormiram pra sempre. Ela preferiu colorir a água da
banheira de vermelho. Ele aproveitou um amigo liberal e resolveu colorir sua
mente, transformando tudo em um paraíso artificial. O menino, pobre menino,
também tomou calmantes. Calmantes demais.
A Menina do Sorriso Largo
Noite qualquer, em um fim de semana qualquer, em uma boate
qualquer. Perdido entre as luzes e cansado pela semana, ia se desvencilhando do
mundo... Copo a copo. Mas não estava sozinho... Ninguém está.
Ela sorria, ela encarava, ela se contorcia. Era seu pequeno
espetáculo, sua apresentação jamais ensaiada e mal ela sabia que havia plateia.
E a plateia estava sedenta por seus movimentos, sedenta por seu mistério não
tão misterioso assim. Batom vermelho, cabelos livres, vestido curto. Era o
combo perfeito para que todos a olhassem. Todos não, apenas ele conseguia
enxergar algo além... Algo além da menina do sorriso largo. Alguns podem
entender mal, mas ela só queria se divertir e sua diversão era caçar. Caçar um
calor, quiçá um amor. Lançava olhares para todos do recinto, dançava com todos
que se aproximavam, todos queriam saber quem era a menina do sorriso largo,
qual nome tal “divindade” carregava e o quão quente ela poderia ser.
Ela caminhou sorridente até o bar aonde as esperanças iam se
perdendo em copos de uísque. Sorriu para ele que respondeu carinhosamente lhe
oferecendo uma bebida. A menina do sorriso largo fez o que fazia de melhor e
sorriu, aceitando o convite. Beberam juntos, riram juntos, se olharam e ao fim,
se desejaram juntos. Ele, como todo bom galanteador, partiu para o segundo
passo e perguntou se ela não gostaria de conversar em um lugar mais reservado.
É claro que ela queria, já tinha conseguido sua presa, já tinha conseguido seu
calor.
Saíram juntos do
local que chegaram separados e caminharam até um carro. Ele não agiu de maneira
educada, não naquela noite, e pouco se importou em abrir a porta pra ela. Ela
também não ligava, era diferente demais pra se prender a poucas coisas. Em
pouco tempo de conversa, marcas de batom já se prendiam ao seu pescoço e fios
de cabelo iam caindo ao serem puxados. Estava tudo caminhando de maneira certa
para os dois. Conforto era uma palavra que se perdera no meio do caminho, ou
melhor dizendo, no meio dos botões da camisa.
Ela perguntou se ele não queria ir a um lugar melhor e ele
aceitou a proposta. Dirigiram até o apartamento dela, trocando carícias e
olhares tão penetrantes que pareciam rajadas de calor partindo de uma escuridão
sem fim. Chegaram e rapidamente subiram dispostos a exporem os desejos que
estavam sendo contidos desde os largos sorrisos no bar. Ela o levou a seu
quarto e pediu que ele esperasse. Saiu em disparada pro banheiro e ele não
entendia o porquê de tanto mistério, mas estava gostando tanto que pouco se
importou. Tratou logo de se despir e esperar sua “musa” retornar, e ela
retornou, nua, mostrando cada pedacinho da coisa que mais lhe excitava. Não,
não estamos falando de partes íntimas e sim de pele. Sim, pele. Aquela pele
macia e com cheiro de baunilha o fazia delirar. Era como tocar o Paraíso e ter
a sensação de ser tocado pelo mesmo. Sem mais rodeios, ela partiu pra cima e
consumiu o resto de energia que ele tinha guardado durante a semana.
Suor, gemidos, baunilha... Ele agradecia por ter saído pra
beber. Ela agradecia por não ter ido dormir sozinha. Adormeceram juntos, mas
acordaram separados. Ele já partira quando os primeiros raios de Sol tocaram o
rosto dela e ela sorriu por dentro, esperançosa. Ao chegar em casa, ele notou
algo diferente em seu bolso. Lá estava o que ele não esperava encontrar.
“8734-9084, volte quando quiser. Anna.”
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