quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A droga

Ela nunca tinha experimentado essa, apesar de todas as suas amigas já terem passado por isso antes. Algumas delas disseram que era maravilhoso, coisa forte, das boas. Outras disseram que álcool e cocaína deixavam marcas mais leves. A curiosidade batia nas portas daquele corpo sedento por novidade e tudo aconteceu ao lado dele. Se conheceram numa festa, Carnaval, sabe? Festa grande, gente conhecida e muito barulho. Começaram com simples palavras, simples conversas, simples telefonemas e simples beijos. Quando viram, já estavam entrelaçados e enrolados naquela linha invisível que costumava unir os casais. Foi ali que tudo começou... 

Ele já tinha usado antes, já sabia como a coisa toda funcionava e já sabia a dose certa pra não se viciar. Ela era novata, era carne fresca e ele podia ver o medo nos olhos dela. Sua primeira dose foi entregue pelas mãos dele. Dizem por aí que quase 90% das pessoas que usam se viciam de primeira. Ela não foi exceção e se viciou. A primeira vez é sempre a que marca mais, certo? Errado, não com essa droga. A primeira vez era apenas a iniciação por um caminho incerto, torto e esburacado. Ela tinha muitos dias felizes ao lado dele e de sua nova companheira. Eram dias que ela não queria que acabassem, dias coloridos e ensolarados. Ela quase podia sentir o próprio coração batendo nas mãos dele. Aquilo saiu do controle e ele não sabia mais o que fazer. Como dizer à ela que ele não lhe daria nunca mais a dose diária de sua droga favorita? Como explicar à um viciado que toda a droga se foi? Ele não queria encará-la, apenas foi diminuindo aos poucos a dosagem. Ela sentiu, ela percebeu, ela se queixou e implorou por mais, até que um dia ele interditou de vez o "caminho da felicidade" que ela tanto gostava. Ela parou, fingiu que estava tudo bem, tentou tocar a vida e surtou. Enquanto esperava sentada no canto do banheiro pensou no quanto se arrependia do que tinha experimentado, pensou que se pudesse voltar no tempo, voltaria naquela festa e teria passado direto por ele. Em contrapartida, pensou que se seguisse direto, teria esbarrado em outro que iria lhe oferecer a droga responsável pela sua ruína.

 Antes de fechar os olhos para sempre, concluiu que todo mundo, no fundo, era viciado na mesma droga que ela, mas que todos eles sabiam tomar as doses certas.

 Antes disso tudo, sentiu um gosto amargo na boca e desejou só mais um pouquinho da droga do amor.

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