“Muito
obrigado pelo tempo maravilhoso que estivemos juntos, mas preciso ir.”
Foi assim que ela me deixou. Eu não tive tempo nem de dizer adeus. O perfume
dela foi atrás, seguindo sua dona e não deixando sequer um resquício dos tempos
que viveu no espelho do banheiro. Do nosso banheiro. Do meu tão solitário
banheiro. O cabelo foi o último a me deixar. Lembro do último fio se despedindo
antes dela fechar a porta. Aqueles cachos que outrora viveram em repouso sob
meu travesseiro, que outrora viveram entrelaçados com o ralo do banheiro e que
sempre geravam admiração por onde passavam se foram. Eu não sei o que fazer com
os gatos que você tanto me pediu pra ter e que agora me parecem os piores amigos
do mundo. Eles me fazem acessar as memórias dos dias felizes, em que
acordávamos com os miados e tomávamos café juntos. Nós nos beijávamos a noite
toda. Eu não tenho nem ideia de quantas vezes ia pro trabalho te odiando por me
fazer perder mais uma noite de sono. Ao fim do dia, a única coisa que eu queria
era chegar em casa e te encontrar com aquele ar de “se sou bem vinda ou não,
aqui ficarei”. Eu deixava você ficar e você foi ficando. Quando eu percebi,
você já era parte da minha rotina, da minha essência e dos meus planos.
Casamento? Eu cheguei a te comprar um anel e estava guardando pra te dar, mas
ainda não tinha coragem. Não me achava bom o suficiente, não tinha coragem de
te pedir para ficar comigo até os fins dos nossos dias. Me arrependo por não
ter te perguntado, eu perdi tempo demais. Agora você se foi e, em mim, restam
partes tão grandes suas que eu acho que fui com você. Não sou mais nada além de
metade do que eu era antes de ti.